Somos seres racionais, mas constantemente vivemos como irracionais. Apesar de vivermos em uma democracia e termos o livre arbítrio de ir e vir, não temos a capacidade de respeitar o outro. Vivemos em uma guerra entre o certo e o errado e a todo momento presenciamos o ódio e as agressões. Não respeitamos o vizinho que torce para outro time, ou o colega de trabalho que apoia o partido X, não temos paciência no trânsito e, muitas vezes, vemos pessoas matando de graça porque seu carro foi fechado por um desconhecido. Estamos vivendo com as emoções à flor da pele.
E de quem é a culpa?
Do fulano que fez uma provocação ou do outro que não soube levar na esportiva? Do que atacou ou do que reagiu? Do político que prega o ódio ou da imprensa que não sabe ser imparcial e, a todo instante, publica notícias evidenciando a violência e os discursos de ódio?
Todos nós temos a nossa parcela de culpa. A diferença está entre quem de fato só pensa e quem fala, executa e influencia o outro a pensar igual. É nessa guerra cada vez mais explícita que a intolerância se forma. Perdemos o respeito pelo outro e não nos damos conta que pensar diferente faz parte da vida em sociedade. É aquela velha história de “que graça teria se todos os indivíduos pensassem igual?”. Parece que, atualmente, ninguém mais tolera quem pensa diferente e, por isso, está cada vez mais difícil opinar.
Na internet, que insiste em ser uma “terra sem lei”, todo mundo fala o que vem à cabeça, discute com o indivíduo que mora do outro lado do país por coisas pequenas. Colocam o fanatismo acima de qualquer coisa, esquecem que têm família e que o outro também tem. Esquecem que a vida é um instante e que não, não vale a pena morrer pelo fanatismo! Tudo bem se o outro for diferente, esse é o mundo, cheio de pessoas que pensam diferente, vivem diferente e tudo bem ser assim.
Mas na prática isso não acontece. Foz do Iguaçu, uma cidade cosmopolita que vive de forma harmoniosa com suas mais de 70 etnias foi palco de uma violência causada pela intolerância. Um indivíduo por pensar diferente de outro e de forma extremista não teve tolerância suficiente para respeitar. Foi irracional e infelizmente tirou a vida de outra pessoa. Agora ele segue entre a vida e a morte. Com isso vem a reflexão, quanto vale a vida? Vale a pena abrir mão da vida e da família por conta de um pensamento e posicionamento político? Onde está o respeito pela opinião contrária?
Em entrevista a um programa televisivo brasileiro em 2019, o então ex-presidente uruguaio Pepe Mujica apresentou uma ideia um tanto considerável quanto ao cenário brasileiro político dos últimos tempos quando diz que a polarização extrema paralisa uma sociedade, transforma o cenário em pura confrontação, e que com a polarização o que existe não é um debate de ideias ou um intercâmbio dessas ideias, mas sim um choque de pessoas.
Ou seja, ao invés do debate o que existe é um embate entre ideias que geram discursos de ódio, agressões e mortes.
É preciso promover a paz, seja ela religiosa, política, cultural. É preciso lutar pelo fim da intolerância que mata, da parcialidade descarada da mídia que tem poder de influência, da irracionalidade de autoridades que deveriam ser exemplo e servir ao povo, mas se gladiam constantemente e influenciam a massa a se digladiar também. É preciso ter respeito. Hoje, infelizmente, vivemos partidos. Vivemos em uma sociedade dividida, que mata de graça e que não tem capacidade de respeitar as diferenças. Somos seres racionais vivendo como irracionais. Destruímos a nossa família e nossas vidas pelo simples fato de querermos provar que estamos certos, que só a minha opinião importa, que a bandeira X que defendo é a correta, que só o meu pensamento ou aquilo que acredito importa. Besteira…
Estamos perdendo uns aos outros numa guerra onde não existe vencedor. Infelizmente, se continuar assim, todos vamos perder.