No dia 8 de março, a Dra. Marta Teodora Schwarz faria mais um aniversário. Conhecida como o Anjo da Selva tanto em Foz do Iguaçu quanto em Puerto Iguazú (Argentina), foi a primeira médica a fixar residência na cidade irmã [i]. O Hospital de Puerto Iguazú leva seu nome, em homenagem aos muitos anos dedicados à medicina e, em especial, à cidade de Iguazú e à fronteira. Na cidade, todos sabem quem foi a Dra. Marta, ou El Ángel de la Selva, como muitos moradores se referem a ela ao contar histórias.
Quando se fala de Marta, sempre existe um olhar carinhoso e uma memória afetiva; a saudade parece invadir o coração de cada pessoa que conheceu a médica. Marta falava espanhol como língua materna, aprendeu alemão no convívio familiar e arriscava um pouco o português e o guarani, o que é comprovado por seus arquivos formados por muitas cartas, poemas, receitas e fotografias.
Os arquivos de Marta revelam uma mulher muito à frente de seu tempo, preocupada com as questões sociais e com a saúde da tríplice fronteira. Marta tinha um olhar humanizado sobre a saúde da mulher. Esse fato também é revelado pelo acervo de leitura da médica, uma leitora perspicaz, sensível e fanática por romances de Agatha Christie.
Marta era uma escritora de poemas e também uma grande colecionadora de receitas afetivas. As diversas cartas, poemas e receitas, assim como os discursos que escrevia e reescrevia — pois foi Secretária de Saúde de Misiones, reconhecida entre seus pares e nomeada cidadã ilustre pela Câmara de Vereadores desta cidade — revelam o domínio das línguas e também suas escolhas.
As receitas, na sua maioria escritas em alemão, revelam a saudade afetiva de Marta, sua infância, seu lugar familiar e a língua também familiar. Os poemas, muitos deles copiados mais de uma vez, parecem ser uma tentativa de praticar a língua materna, o espanhol. Alguns outros poemas de sua própria autoria revelam a curiosidade de Marta pela escrita e também a leitora de tantos livros de diversas temáticas, mas sempre sobre cuidados, saúde e o universo feminino. O português aparece em seus escritos formais, discursos ou correspondências, embora com mistura de vocabulário, sempre atenta e cuidadosa com a mensagem.
Marta viveu uma vida multicultural e multilíngue e, talvez, nunca tenha se questionado sobre isso, mas esse era seu universo. Atendia em vários idiomas, cuidava de todos com a mesma língua, a do afeto. Marta sempre esteve à frente de seu tempo; nos cadernos de infância, aparece o traço apagado do alemão porque devia aprender o espanhol. Na persistência e na resistência, ela escrevia e copiava receitas na língua familiar, guardava recortes de jornais e revistas para não esquecê-la, para no olvidar. Ela sempre soube que as línguas são nossa identidade.
[1] Estes primeiros apontamentos formam parte de uma pesquisa em andamento sobre a história da Dra. Marta T. Schwarz, realizada na UNILA.