Muitas pessoas me perguntam o que torna a fronteira um lugar especial. E, de fato, ela é. A verdade é que uma fronteira oferece diversas possibilidades e caminhos, dependendo de como as atravessamos ou interagimos com ela. A Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai é, para mim, muito bonita. Diversa, pluricultural e multilíngue.

No coração da região, que se expande até as áreas mais periféricas, você encontra o cheiro gostoso das chipas vendidas fresquinhas em cada semáforo; o portunhol, que combina espanhol e português, e o guaranhol, que é a mistura de guarani com espanhol, conhecido também como jopará. Bartomeu Meliá explicava isso como uma forma de o guarani se misturar com o espanhol, uma ideia que o professor Hildo Honório de Couto, da Universidade de Brasília, também compartilha. Apesar de parecer algo novo, essa mistura de línguas existe há séculos, desde os tempos coloniais. O professor Couto nos dá exemplos de como o guarani e o espanhol se influenciam mutuamente. Por exemplo, a palavra para “cruz” é “kurusu” em guarani e “cruz” em espanhol.

É certo que o jopará e os portunhóis, como manifestações linguísticas, circulam pelas ruas da caótica e belíssima Cidade del Este, pela movimentada e turística Foz do Iguaçu e pela bucólica e selvática Puerto Iguazú. Em cada uma dessas cidades, de maneiras diferentes, formam suas misturas e “mescolanzas”. Isso ocorre porque as línguas tomam emprestado significados e palavras para formar outras, expandir-se e criar. Nesse aspecto, a fronteira tem muito a nos ensinar. À medida que transitamos por esta fronteira e outras, nosso vocabulário se expande; aprendemos também a brincar mais com a linguagem e inventamos novas possibilidades.

A língua é viva. E a fronteira é tão rica que, até nas comidas, nos mostra suas diversidades e formas. Em todo semáforo, temos a chipa, mas também encontramos a mistura com salgadinhos, alfajores e até algodão doce. Há shawarma, doces árabes e até bolinhos da sorte. A fronteira é tão extensa e diversa que seria impossível falar de apenas uma língua oficial ou uma comida típica, pois a magia está em poder habitar e desfrutar de toda a diversidade do lugar.

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Eu posso te convidar e gostaria de te mostrar o portunhol como uma manifestação nas artes, na cultura, nos cartazes, na poesia, em cada cantinho do lugar. Embora sempre tímido e pouco audaz, ele sabe se mostrar; só precisas olhar com “curiosidade” para que não escapes das coisas boas da fronteira trinacional.

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É Doutora em Educação (FaE) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Possui Licenciatura em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (2003), Mestrado em Letras - Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (2010) e Mestrado Profissionalizante na Área de Novas Tecnologias, pelo Instituto Universitario de Posgrado (Espanha). Atualmente é Professora de Língua Espanhola como língua adicional na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) no Ciclo Comum de Estudos. Tem interesse nas áreas de ensino de espanhol, fronteira e interculturalidade e línguas em contato.

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