Minha língua na fronteira se mistura todo o tempo. Quando era pequena eu brincava de saber as línguas. Na minha casa eu aprendia inglês, mas me lembro do meu avô falando algumas palavras em italiano. Dizia ele que esqueceu muita coisa, mas ainda permanecia a troca de cartas com um primo da Itália.
Esta história é familiar há muitos imigrantes, onde as línguas, as várias línguas, se misturam na mesa de suas casas, nos bairros, na escola. Quando pequenos sempre escutamos várias línguas. E um descobrimento mágico escutar sons de nossa língua, sons de outras línguas. Temos curiosidade, é mágico.
Quando meu avô falava em italiano até os aromas pareciam mudar, as paisagens se transformavam. Era sempre como uma nova viagem de tempo e de lugar. Na escola, nos primeiros anos do ensino fundamental eu gostava de aprender outra língua, mas não tive essa oportunidade.
Aprender outra língua nos possibilita viajar com a imaginação, pensar outros caminhos. Uma vez na minha escola conheci novos amigos. Na cidade falavam que eram ciganos, quando chegaram na escola, todos queríamos saber mais. Me lembro das línguas todas misturadas. A mistura era de barulhos, de sotaques, de cantos diversos. No início eu tinha medo, curiosidade, cheguei perto deles querendo saber tudo!
A criança tem o encantamento da curiosidade, do imprevisível, e isso também está nas línguas. Quando aprendemos palavras novas, conceitos novos também aprendemos a olhar diferente, a ampliar nosso horizonte, a nos sensibilizar.
Se temos diversas línguas aprenderemos mais sobre nós mesmos, e também sobre nossos vizinhos. E isso é fundamental. É um exercício de justiça social poder abraçar ao colega da sala falando na mesma língua que ele.
Quando cheguei no Brasil, me senti muito acolhida quando conversaram em espanhol. As línguas são importantes para o acolhimento afetivo na chegada em outro país. Às vezes, pensamos que não conhecemos nada de línguas e então demoramos para nos integrar, mas a verdade é que as línguas sempre estão presentes.
Nesta semana, eu aprendi que alfajor deriva do árabe, “al hasú” que quer dizer recheado, e sabe onde nasceu o alfajor? Em Andaluzia, na Espanha! E nesta fronteira, temos muitas palavras que se mesclam: guri, uma palavra que também usamos no norte da Argentina, assim como o aroma da chipa. Já escutei muitas coisas aqui, nesta cidade trinacional e multicultural.
Me conta, que línguas te tocam o coração?