Em uma fronteira como a tríplice, onde as culturas se encontram, é impossível pensar que as línguas não se misturam. Elas se encontram em diferentes fronteiras e perspectivas. Muitas vezes, neste editorial, escrevi sobre os alunos imigrantes nas escolas de ensino fundamental da cidade, não temos dados precisos para as escolas de ensino médio, mas certamente o número de alunos imigrantes é alto também.
Então, vamos fazer essa reflexão juntos: crianças que chegam à escola falando outras línguas certamente no processo de alfabetização do português, elas vão misturar as línguas. E está tudo bem! A aprendizagem é um processo. Isso não significa que não devemos corrigir ou deixar tudo como está; muitas vezes temos uma ideia falsa do que significa aprender uma língua e pensamos que só vamos aprender se formos corrigidos o tempo todo, ou se tivermos tal ou qual pronúncia.
A verdade é que sempre criamos imaginários em torno do falante “nativo”. Afinal, para aprender uma língua adicional/estrangeira, devo viajar ao exterior? Devo falar como “um nativo”? Certamente, você já ouviu várias vezes: “quero que você fale como nativo”, ou ainda nos anúncios de emprego: “procuramos falante nativo de inglês”, por exemplo. É impossível afirmar que existem línguas nativas (ou seja, uma língua homogênea). Não podemos falar de um cidadão nativo ou uma língua nativa, aliás, nem devemos, já que é um mito pensar que os cidadãos de uma mesma nação têm a mesma cultura ou identidade.
Portanto, quando pensamos em termos de falante nativo, deveríamos perguntar: qual de todos os falantes de uma mesma língua? Entender esses processos também nos permite refletir sobre o contato das línguas e como percebemos as línguas. No caso do portunhol, não se trata de não corrigir ou deixar como está, ou permitir falar tudo misturado, quando pensamos na escola e no processo de alfabetização, mas de criar estratégias sensíveis nesse aprendizado.
Mais que estratégias sensíveis, também teríamos que pensar em estratégias de integração, onde o acolhimento é uma palavra-chave que nos permite pensar a partir do lugar do imigrante ou refugiado que chega a outro país e não sabe falar a língua de todos. O portunhol não é um erro; a mistura de línguas não pode ser vista como erro, esse é um dos desafios para pensar em uma pedagogia sensível, desde e para além das fronteiras.