A transformação digital, impulsionada pela inteligência artificial (IA), tem promovido avanços significativos no ambiente empresarial, mas também levantado questões jurídicas relevantes. As organizações que adotam essa tecnologia precisam observar rigorosamente a conformidade com normas legais, especialmente no que se refere à proteção de dados pessoais, conforme disposto na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e no Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) na União Europeia. A coleta e o tratamento de dados para treinamento de algoritmos devem ser realizados de forma lícita, transparente e segura, sob pena de sanções que incluem multas elevadas e danos à reputação.

Além disso, a responsabilização civil por prejuízos decorrentes de decisões automatizadas é tema de debates relevantes. Um exemplo que ilustra essa complexidade é o caso de um sistema de IA que comete erros em análises financeiras, causando perdas significativas. Isso levanta a questão: quem deve arcar com os prejuízos — a empresa que desenvolveu o algoritmo, o fornecedor que o implementou ou o usuário final que dele se beneficiou? A falta de regulações claras intensifica a insegurança jurídica.

Outro ponto crucial é a transparência dos sistemas de IA. Muitas dessas tecnologias funcionam como “caixas-pretas”, dificultando a compreensão sobre como determinadas conclusões são alcançadas. Essa falta de clareza pode levar à discriminação ou à violação de direitos fundamentais, especialmente em processos seletivos ou análises de crédito. Por isso, reguladores têm exigido maior explicabilidade dos algoritmos, visando assegurar a legitimidade das decisões automatizadas.

A proteção da propriedade intelectual também merece atenção. A autoria de obras criadas por IA é um campo juridicamente nebuloso, já que as legislações vigentes reconhecem, em geral, apenas pessoas físicas como autoras. Essa lacuna legislativa pode comprometer os direitos sobre inovações tecnológicas.

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Por fim, é imprescindível que as empresas invistam em programas de governança corporativa que abranjam aspectos éticos e jurídicos. A adoção de práticas de compliance para o uso responsável da IA não é apenas uma exigência regulatória, mas também um diferencial competitivo no mercado contemporâneo. A inteligência artificial, apesar de seu vasto potencial, requer um equilíbrio entre inovação e responsabilidade. Somente assim é possível garantir sua utilização de forma segura e em conformidade com as normas jurídicas e éticas vigentes.

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Mestre em Direito dos Negócios pela FGV/SP e sócio do escritório Claudio Rorato Advogados Associados.

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