Você já pensou o que define uma língua? Aqui na fronteira escutamos várias línguas, sotaques e também mesclamos muitas línguas que por aqui circulam. De fato, a fronteira marca e nos imprime suas características e dizeres particulares. Se somos de aqui, também somos de lá, e aqui costumamos falar que somos de todos os lados, pois a fronteira nos faz trinacional. Muito mais que isso, ela nos permite transitar entre as moedas, as línguas, as culturas. É por isso que aqui você irá escutar que eu “falo muitas línguas” ou “la garantia soy yo”.

Por trás dessas frases, não apenas se encontram vozes, enunciados que escutamos sempre na fronteira, mas também um saber da fronteira. O saber da fronteira é de todos, ele pertence a cada um de nós, os habitantes da fronteira a fazem todos os dias. Então, se eu perguntar se você fala muitas línguas ou se você é multilíngue, vai me responder: claro! Falo portunhol muito bem!

Aqui não podemos falar do estrangeiro do outro lado da fronteira, pois ele é nosso vizinho. Nesse ir e vir da dinâmica da fronteira, produzimos nossos saberes fronterizos. Esses saberes podem ser populares, culturais, econômicos, linguísticos, literários ou cotidianos. Por isso, quando falamos do portunhol ou guaranhol ou das outras línguas na fronteira, temos que pensar nas experiências de cada um de nós com os trânsitos fronterizos, com esse ir e vir, com um pé aqui e outro lá.

O certo é que a mescla dessas línguas ou diversos saberes desta e tantas fronteiras se fusionam nas artes, na vida, de diversas formas e se imprimem como parte da cultura de um povo. Faz pouco tempo, a famosa artista Gaby Amarantos ganhou o Grammy Latino e disse ao subir no cenário para pronunciar o discurso: “peço perdão porque não hablo espanhol, mas vou fazer um portunhol”. Na verdade, ela não precisava pedir desculpas, pois nos alertou sobre a importância e a urgência de defender nossa Amazônia, e também porque ela falou em espanhol com o sotaque da sua língua materna, o português. E ela nos mostrou muitos saberes em poucas palavras.

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A verdade é que, eu, não sei em que línguas você fala ou se poderia responder à pergunta se fala muitas línguas, porém, tenho certeza que cada vez que atravessa a fronteira ou as fronteiras, está construindo muitos saberes, de diversas formas, e que talvez ainda não saiba. Se permita mesclar as línguas, pois forma parte de nossa identidade fronteriza e trinacional.

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É Doutora em Educação (FaE) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Possui Licenciatura em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (2003), Mestrado em Letras - Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (2010) e Mestrado Profissionalizante na Área de Novas Tecnologias, pelo Instituto Universitario de Posgrado (Espanha). Atualmente é Professora de Língua Espanhola como língua adicional na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) no Ciclo Comum de Estudos. Tem interesse nas áreas de ensino de espanhol, fronteira e interculturalidade e línguas em contato.

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