E difícil deixar de falar das línguas da fronteira, e que por muitas vezes não escutamos ou não deixamos escutar. Muita gente pensa que eu falo do portunhol desde o lugar do “erro”, ou desde o lugar do equivocado. Bem, quem coloca o portunhol desde esse lugar são os “puristas das línguas”, e este não é meu caso. O que é o portunhol, como pergunta central, mas também como um questionamento do estar entremedio das fronteiras e da cultura que aqui, nesta Tríplice Fronteira, vivemos e sentimos, e que talvez por isso nos possibilita pensar nesses barulhos dos sons que a junção ou a disjunção do castelhano, português e o guarani vão criando e musicalizando na escrita poética, mas também na fala. Muitas vezes não percebemos, mas vamos misturando pouco a pouco ou ás vezes até sem perceber. A verdade é que quando criamos em portunhol temos a possibilidade de criar abraços e laços que se juntam diariamente nesta fronteira das águas, e também nas fronteiras secas, entre países e é um entrelugar. Estando neste território é quase impossível deixar de nos questionam e nos fazem pensar sobre; o que é o portunhol? E como ele nos atravessa cotidianamente desde diferentes olhares, da rutina, da imigração, do ser latino-americano, e também de nos permitir como seres latino-americanos e também fronterizos. A proposta e a vida encontrada nas línguas irma/hermanas, pois aqui está a vida da fronteira. O certo é que é difícil visualizar o portunhol desde os lugares que sempre colocam este conceito, pois ele é a graça ausente de um olhar, distante na fronteira da vida, da música. A verdade é que o portunhol é o nomear da poesia, na fronteira do rio que a banha, nas cidades que aqui estão, Cidade del Este, Iguaçu, Puerto Iguaçu y também más allá. A verdade é que falamos muitas vezes o guarani sem saber, e até o tupi, o tempo todo, a palavra pipoca que é a junção de ‘pira’, que significa ‘pele’ com ‘poca’, significa ‘arrebentar’ é um exemplo do tupi. Paraná que significa mar ou rio grande, falamos todos os dias e muitas vezes em saber. Ao final, é que o espanhol e o português compartilham muitas palavras é isso porque são duas línguas que derivam do latim. Bem, tenho que falar que uma palavra que eu gosto muito é “guri” e você sabia que também usamos guri em regiões da Argentina ou de Uruguay. Aqui já falamos dos préstamos lingüísticos que é a adopção de uma palavra de uma língua para outra. O espanhol, por exemplo, incorpora muitas palavras do náhuatl (tomate, chocolate) e também da língua árabe (algodón, álgebra). Nossas línguas são nossa diversidade, e muitas vezes compartilhamos muito mais do que pensamos!

É Doutora em Educação (FaE) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Possui Licenciatura em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (2003), Mestrado em Letras - Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (2010) e Mestrado Profissionalizante na Área de Novas Tecnologias, pelo Instituto Universitario de Posgrado (Espanha). Atualmente é Professora de Língua Espanhola como língua adicional na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) no Ciclo Comum de Estudos. Tem interesse nas áreas de ensino de espanhol, fronteira e interculturalidade e línguas em contato.