Em abril de 2021, a visita de Santos Dumont a Foz do Iguaçu completou cem anos. Nós, da Revista 100 Fronteiras, seguimos relembrando esse fato histórico que foi um marco para a nossa cidade.

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A primeira edição na qual publicamos a história completa da vinda de Alberto Santos Dumont é de fevereiro de 2009, onde relatamos a agem dele por Foz e a importância dele para transformar o Parque Nacional do Iguaçu em Patrimônio Natural da Humanidade.

Hoje, 105 anos depois, queremos dar continuidade a essa história, destacando os pontos mais importantes da trajetória dele pelo estado.

Sempre houve uma dúvida por parte da equipe da Revista 100 Fronteiras sobre a visita de Santos Dumont à capital. Por conta disso, em 2009, enviamos um correspondente especial que trabalhava conosco na época, o jornalista Jackson Lima, a Curitiba para investigar a história.

E foi quando descobrimos a verdade dos fatos que iremos relembrar agora. O jornalista também foi até a biblioteca de Posadas, na Argentina, e em Foz falou com diversos pioneiros.

Hoje, graças ao empenho, pesquisa e dedicação da equipe, podemos afirmar, com toda a certeza, que Santos Dumont visitou, sim, o presidente do estado da época e conseguiu que as terras fossem desapropriadas.

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Visita histórica

Alberto Santos Dumont ficou conhecido mundialmente por ser o “Pai da Aviação” quando, em 12 de novembro de 1906, decolou com seu avião 14-Bis e sobrevoou o Campo de Bagatelle em Paris. O voo cobriu 220 metros de distância a uma altitude de seis metros.

Mas aqui em Foz do Iguaçu ele também ficou conhecido por ser o responsável por tornar as Cataratas do Iguaçu um local público. O ano era 1916, quando o hoteleiro Frederico Engel soube que Santos Dumont estava hospedado no lado argentino e que a sua visita seria encerrada por lá.

Engel procurou de imediato o prefeito de Foz do Iguaçu, na época o senhor Jorge Schimmelpfeng, para convencer o ilustre brasileiro a visitar o outro lado das Cataratas, segundo destacou o historiador Atila Borges. Assim, uma comissão foi organizada, e Santos Dumont aceitou o convite.

Ele havia vindo da Argentina quando chegou à cidade e se deparou com as quedas. Impressionado e sabendo que as terras pertenciam a uma única pessoa, decidiu que falaria com o presidente do Paraná, Affonso Camargo, para pedir a desapropriação e, em consequência, tentar transformar o local em patrimônio histórico.

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Assim, ele partiu de Foz do Iguaçu em uma viagem de seis dias, em “lombo de burro”, até Guarapuava. Recebido com festa em Guarapuava pelo prefeito Luiz Scheleder, Santos Dumont dormiu uma noite lá e no dia seguinte partiu de carro para Ponta Grossa, nos Campos Gerais. De lá, e de trem, foi até Curitiba, aonde chegou no dia 5 maio de 1916.

A movimentação em torno dele foi grande. Até um jogo amistoso foi organizado em homenagem a Dumont no campo do Atlético Paranaense. E assim, somente no dia 8 de maio, ele foi recebido oficialmente pelo presidente Affonso Camargo.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Santos Dumont disse, pessoalmente, o que fez na capital paranaense.

“Quando ei por Curitiba, fui falar com o presidente do Estado somente sobre o Iguaçu: pedir-lhe se interesses pelo salto, o torne mais fácil e cômoda a excursão, imagine que não existe nem hotel por aquelas paisagens. Existe, com o nome de hotel, uma casinha, com dois quartos e uma sala apenas…”.

Em busca de mais informações sobre esse acontecimento, em 2009, o jornalista Jackson Lima procurou pelo neto de Affonso Camargo em Curitiba, o deputado federal do Paraná na época Affonso Alves de Camargo Netto.

Ao receber o jornalista e perceber o interesse da revista em resgatar essa história, o deputado se mostrou emocionado com o reconhecimento.

“Que bom que vocês lembraram de escrever sobre o meu avô.”

Segundo ele, a agem de Santos Dumont por Curitiba deixou a impressão de certa frieza no ar. Neto relembra que seu pai esteve com o seu avô no estádio. Cresceu ouvindo a história de como o “Pai da Aviação” veio a Curitiba e de como o seu pai, Pedro Alipio Alves de Camargo, foi levado a tiracolo para ver e ser visto pela celebridade.

Graças a esse encontro entre o jornalista e Neto, hoje a 100Fronteiras possui uma relíquia doada pelo deputado: uma foto especial em que Santos Dumont aparece com olhar fixo em alguma coisa ao lado do presidente do Paraná, Affonso Camargo. Também está na fotografia o pequeno Pedro Alipio, todo de branco. A imagem foi captada no estádio do Atlético Paranaense.

Santos Dumont

“Pois imagine uma imensa queda d’agua oferecendo o mais bizarro pitoresco deste mundo: cachoeiras numerosas e variadíssimas, ilhas espalhadas por ali, e a vegetação, e uma infinidade de aspectos belíssimos. O Iguaçu, sem exagero nenhum, é uma maravilha. Maior, muito maior que o Niágara. O Niágara é uma formidável queda d’agua – mais nada. Não tem o lindo pitoresco do Iguaçu. Poder-se-ia dizer que há um Niágara nos Estados Unidos e um Niágara latino aqui no sul da América.”

De o Estado de São Paulo.

do decreto de desapropriação das terras em torno das Cataratas do Iguaçu

Três meses e 20 dias após a visita de Santos Dumont à capital, o presidente do Paraná assinou o Decreto 653, do dia 28 de julho, que foi publicado no Diário Oficial da segunda-feira, 31 de julho daquele ano, oficializando a desapropriação das terras em torno das Cataratas do Iguaçu.

Segundo relatos da época: “O presidente do Estado do Paraná (…) decreta: ‘Fica declarado de utilidade pública para o fim de nele se estabelecerem uma povoação e um parque, em conformidade com o Art. 3 […] Regulamento que baixou com Decreto 560 de 1913, o lote de terra concedido a Jesús Val pelo Ministério da Guerra na Ex-Colônia Militar do Iguassu, com a área de mil e oito (1.008) hectares, a margem direita do Rio Iguassú, junto aos Saltos de Santa Maria, revogadas as disposições em contrário (Pala Presidência do Estado do Paraná, 790214-8° da República. Assinem o De Fobito Alves e Camargo (Presidente) e Caetano slipz da Roche (Vi residente)”.

Houve uma demora na desapropriação porque o dono das terras na época, Jesús Val, entrou na Justiça. Mas em 1919, ele aceitou o que o governo oferecia, e a escritura foi assinada. Na folha 114 do Livro 0158 do 2º Tabelionato de Notas em Curitiba está registrado, com a ortografia da época: “Saibam quantos estiveram que no ano do Nascimento de Cristo de mil novecentos e dezenove, em dez de julho, nesta cidade de Curitiba, Capital do estado do Paraná, em o Palácio da Presidência do mesmo estado, à rua Barão do Rio Branco, onde a chamado vim, compareceram as partes avindas e contractadas como OUTORGANTE VENDEDOR: Jesus Val, cidadão hispanhol, fazendeiro, residente em Porto Colon, Paraguay, neste ato representado por seu Procurador bastante Leopoldo Frederico Pereira […] e como OUTORGADO COMPRADOR: o Estado do Paraná, aqui representado pelo seu presidente eleito e em exercício o Exmo Sr. Dr. Affonso Alves de Camargo e Dr. Albano Drumond dos Reis, procurador dos feitos da Fazenda do mesmo estado […] A partir daqui o caminho está aberto para tudo o que aconteceu depois”.

Cataratas do Iguaçu

Hoje o Parque Nacional possui uma completa e mo derna infraestrutura e é dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das unidades de conservação no Brasil.

Unido pelo Rio Iguaçu ao Parque Nacional Iguazú, na Argentina, o parque integra o mais importante contínuo biológico do Centro-Sul da América do Sul, com mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e outros 400 mil em florestas ainda primitivas.

Protege uma riquíssima biodiversidade, constituída por espécies representativas da fauna e flora brasileiras. Em 1986 foi reconhecido como a primeira unidade de conservação do Brasil a ser instituída como Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela Unesco. E em 2011 foi eleito uma das Sete Novas Maravilhas da Natureza.

Há também no local uma estátua de Santos Dumont em homenagem a ele.

Estátua Santos Dumont Cataratas do Iguaçu
Foto: seviranomundo

Os primórdios do Parque Nacional do Iguaçu

1910 – Jesús Val é proprietário das terras à direita dos Saltos de Santa Maria;

1913 – Lei 1.260 abre caminho para desapropriações no estado;

1916 – Decreto 653 desapropria terras de Jesús Val;

1919 – Assinada Escritura Pública de Venda;

1930 – Parque sofre primeira ampliação;

1939 – Decreto Federal número 1.035 cria Parque Nacional do Iguaçu;

1942 – Serviços de parques nacionais do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura propõe segunda ampliação;

1944 – Decretos 6.506, 6.587 e 6.664 elevam áreas para limites atuais;

1967 – Portaria 42/67 manda regularizar situação fundiária;

1972 – Concluído o levantamento;

1978 – Últimos colonos deixam os limites do Parque Nacional;

1980 – Desapropriam-se os últimos 459 hectares;

1986 – O parque entra na lista de Patrimônio Natural Mundial ou Patrimônio da Humanidade, organizada pela Unesco;

1999 – Conclusão do Plano de Manejo;

2000 – Implantado o modelo de concessão em vigência;

2009 – 10 de janeiro, comemoração dos 70 anos da federalização das terras e criação do PNI;

2011 – No dia 11 de novembro, as Cataratas do Iguaçu foram eleitas uma das Sete Novas Maravilhas da Natureza;

2016 – Cem anos da visita de Santos Dumont às Cataratas e da desapropriação das terras onde hoje se encontra o Parque Nacional.

Matéria publicada originalmente na edição de julho de 2017 - datas que continham na matéria foram atualizadas.
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