A família da dona Agnese Betio Giovenardi chegou em Foz do Iguaçu em 1949. Depois de quase vinte anos, em 1978, a família deixou a cidade por um motivo especial. Um dos seus filhos havia finalizado seu trabalho na Ponte da Amizade e mudou para São Paulo a convite da construtora Sotege.

Para aquele jovem de Foz do Iguaçu, a construção da ponte abriu uma oportunidade de trabalho única. Nos anos seguintes, o que parecia apenas uma ligação entre os dois lados da fronteira, também impactaria na vida de milhares de pessoas que viriam a residir na Tríplice Fronteira.

A década de 1950
Foz do Iguaçu era uma cidade promissora. Isso porque nos anos anteriores, houve um pesado investimento federal nas obras do Parque Nacional do Iguaçu. O o às Cataratas do Iguaçu foi apenas um dos aspectos visíveis das melhorias. O objetivo era tornar a cidade em um centro de turismo nacional e internacional.
Apesar disso, o principal o à Tríplice Fronteira continuava a ser pela Argentina ou São Paulo. Com algum exagero, no início de 1950 podemos dizer que Foz do Iguaçu estava mais próxima de São Paulo (pelo rio Paraná) do que de Curitiba. E o Paraguai, especialmente a capital Assunção, era ível pela estrada de ferro que chegava em Encarnación (de frente para Posadas).
Quando os presidentes Alfredo Stroessner e Juscelino Kubitschek se encontraram no Hotel Cassino, a proposta de uma ponte sobre o rio Paraná poderia parecer que ligaria o nada a lugar algum. Como as aparências enganam, a futura Ponte da Amizade foi um projeto ousado de unir o Brasil ao Paraguai por meio de um o terrestre ao Oceano Atlântico.

Dos desafios à inauguração
A Ponte da Amizade foi uma das obras mais engenhosas da década de 1960. As variações e a navegação do rio Paraná foram apenas alguns dos desafios enfrentados pelos engenheiros da época. O arco formado pelo enorme vão livre da ponte não é apenas um detalhe da arquitetura. O objetivo era permitir a navegação mesmo sob o período de cheia do rio.
A construção da ponte também demandou uma considerável mão de obra. Assim como o Parque Nacional construiu uma pequena vila (18 casas) e a Itaipu construiu 11 vilas mais tarde (9515 casas), no entorno do canteiro de obras da ponte também foi fundada uma vila, que abrigou os operários da construção civil e seus familiares.
“Sob os aplausos de dezenas de milhares de brasileiros e paraguaios, os Presidentes Humberto Castelo Branco e Alfredo Stroessner, inauguraram, na manhã de sábado a ponte internacional sobre o rio Paraná cuja placa comemorativa afirma que a obra aviva a confiança e reitera a amizade dos dois povos, abrindo caminho mais amplo para o futuro do continente”. (Jornal de 29/03/1965, acervo histórico O Globo)
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Depois da ponte
Toda a realidade de Foz do Iguaçu e da região internacional da Tríplice Fronteira foi transformada pelas estradas do Brasil e do Paraguai que se encontravam na Ponte da Amizade. Posadas-Encarnación deixou de ser a referência para quem pretendia viajar para o oeste do Paraná. A mudança foi expressiva e percebida até mesmo pela população local.
Em entrevista ao Jornal Gazeta do Iguaçu, em 1994, Galdino Moro, um iguaçuense nascido em 1929, declarou: “o progresso começou com a construção da Ponte da Amizade”. Assim como Moro, outras pessoas que viveram o antes e o depois da ponte ressaltam as muitas e rápidas transformações pelas quais Foz do Iguaçu ou.
Em 1948, a população de Foz do Iguaçu era de 2.650 habitantes. Em 1960, saltou para 28.079, de acordo com o IBGE. Estamos tão acostumados com o boom da população durante a construção de Itaipu, que por vezes não observamos o extraordinário crescimento de Foz do Iguaçu depois da ponte. Em 12 anos, a cidade recebeu mais de 25 mil pessoas.

Ciudad del Este
Um ano depois da do tratado bilateral Brasil-Paraguai que permitiria a construção da ponte, o governo paraguaio decidiu criar uma cidade. Atualmente, Ciudad del Este é a segunda cidade mais importante do Paraguai, ficando atrás apenas da capital, Asunción. O principal motivo dessa relevância foi o contato com o Brasil.
Em 1960, Ciudad del Este tinha por volta de 2000 habitantes. Atualmente, possui mais de 300.000, sem considerar as cidades contíguas (Presidente Franco, Minga Guazú e Hernandarias).
Alfredo Stroessner e seu Ministro do Interior, Edgar Ynsfrán, planejaram usufruir ao máximo da rota terrestre e da possibilidade de comércio internacional que seria aberta com a Ponte da Amizade e o o ao mar. De olho no maior mercado da América Latina (São Paulo), o comércio internacional foi desenhado no começo dos anos 1960.
Apesar dos protestos da diplomacia brasileira, se estabeleceu em Ciudad del Este um livre comércio que atingiu seu auge na virada dos anos 1980 para 1990. As mercadorias viajavam da Ásia, Europa e Estados Unidos para o Paraguai e eram “reexportadas” para o Brasil. Na prática, a Ponte da Amizade se tornou um lugar de produtos chineses, laranjas e sacoleiros.
Depois de meados dos anos 2000, diversas iniciativas tornaram o microcentro de Ciudad del Este mais atrativo para turistas. A Receita Federal ampliou as instalações para fiscalização e a Ponte da Amizade recebeu maior estrutura para o tráfego de pedestres.

Futuro
Com a abertura da rota Asunción-Paranaguá, a Tríplice Fronteira se tornou sinônimo de uma região promissora. Em pouco tempo, milhares de pessoas se mudariam para aquela, que no início de 2000, seria a principal fronteira da América do Sul. No centro desse movimento está a Ponte da Amizade.
Sem a Ponte da Amizade, a história da América do Sul seria contada de outra forma. Na Tríplice Fronteira, não haveria o comércio internacional de Ciudad del Este. Sem esse comércio, não haveria os imigrantes do Oriente Médio e da China em Foz do Iguaçu e em Ciudad del Este.