Matéria publicada originalmente na edição 111 da Revista 100fronteiras, dezembro de 2014.

“Eu lembro até hoje, quando eles alimentavam os cavalos, aquele ‘crac crac’ dos milhos que os cavalos comiam.”

Mas para entender precisamos voltar ao tempo em que seus pais que eram da Polônia – vieram conhecer a América do Sul. O pai, Jorge Lacki, engenheiro formado em Engenharia Agronômica, já havia estudado o Brasil por meio de livros e ficou curioso para conhecer a região.

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Inclusive, pelas páginas da história, descobriu que existiam as Cataratas do Iguaçu. Depois da visita à América, pretendiam voltar para a Polônia. Mas não foi bem isso que aconteceu, pois a Segunda Guerra Mundial estourou, e a família Lacki resolveu ficar por aqui devido à destruição e também à falta de dinheiro.

A Segunda Guerra Mundial estourou na Europa no ano de 1939 e foi até 1945. A guerra gerou grandes prejuízos econômicos, arrasando campos agrícolas, destruindo indústrias e deixando aproximadamente 10 milhões de mortos.

Resolveram estabelecer-se na cidade de Marechal Mallet – próxima a Irati. A escolha da cidade se deu devido a um grupo de poloneses que vivia lá, Cristina conta que era uma região que se assemelhava um pouco à Europa, existindo até um moinho de trigo.

Permaneceram lá por quatro anos. Foi quando um amigo polonês convidou o seu Jorge Lacki para conhecer Foz do Iguaçu. Finalmente ele conheceria a maravilhosa terra de todas as etnias. Na visita se encantou pela Terra das Cataratas e voltou para Mallet somente para buscar a família.

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Chegando a Foz, estabeleceram-se na propriedade da família Schimmelpfeng, que se localizava quase em frente ao Marco das Três Fronteiras. O pai notou que só existia comércio em Porto Aguirre – hoje Puerto Iguazú. Mas ovos, leite, frango eles não tinham, eram só enlatados.

Surgiu então a oportunidade de cultivar para vender. A família Lacki levava os alimentos para o porto, onde a freguesia foi formada. Posteriormente, eles aram a cultivar bananas em estufas e a vender para o batalhão do Exército. Foi desse jeito, trabalhando na lavoura, com os machados nas mãos, que conseguiram economizar dinheiro para que os filhos pudessem terminar os estudos.

os para o futuro

Cristina concluiu o primário no Colégio Bartolomeu Mitre e foi viver em Irati, para terminar o colegial, onde morou com uma senhora viúva que também era polonesa e alugava quartos. Aos 17 anos completou o segundo grau.

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Ao concluir o colegial, o gerente da Panair- uma das companhias aéreas pioneiras do Brasil – João Samek, que era amigo da família e dez anos mais velho que Cristina, enviou a ela uma carta escrita em polonês: “Sempre fomos amigos, mas dessa vez quero me declarar que não só amigos. Quero revelar que estou interessado em você. Já não sou mais noivo, desmanchei meu noivado e quero casar-me com você”.

Ela retornou a Foz e depois de dois meses, dia 5 de fevereiro de 1951, Cristina Lacki e João Samek se casaram na Igreja São João Batista. Como o dinheiro era curto, a comemoração não teve festa, somente um almoço para os padrinhos e as duas famílias. Com a economia na festa, aram a lua de mel em Buenos Aires.

Casal de amigos em frente ao Hotel das Cataratas
Em frente ao Hotel das Cataratas, a esquerda, o casal João Samek e Cristina Lacki Samek.

Eles foram morar na casa que João possuía, propriedade onde hoje se encontra o Edifício Las Hadas- em frente à Praça das Nações (Mitre). Cristina lembra-se com muito carinho da parteira do bairro, dona Cândida, que fez o parto dos três filhos iguaçuenses: João, Jorge e Marcos.

Filhos de Cristina Lacki Samek
Filhos de Cristina Lacki Samek.

Hoje em dia, Cristina vive em sua fazenda, local afastado da cidade. Mesmo assim, continua preocupada com o município que ela adotou de coração, lembrando que devemos ser mais atentos aos turistas.

“Avenida Brasil na época parecia um batom de tão liso que era o barro. Para descer a rua era fácil, mas na hora de subir, os turistas não tinham experiência; eu os agarrava pelo braço e os ajudava a subir.”

Ela também dedica seu tempo livre a carpir, plantar e cuidar da sua horta. É apaixonada por animais e também pelos barulhos que eles fazem. Durante a entrevista, um gato preto e branco permaneceu o tempo inteirinho fazendo carinho nos pés de Cristina, que me disse, com muito afeto, no fim:

“Esse gato, onde eu vou ele vai, ele é danado. Eu dormia com gato quando era pequena, e ele fazia aquele ronco assim gruuuuu’, e eu adorava”.

Lembrei-me de quando uma amiga me falou que uma família que é feliz tem animais, pois eles só precisam de água, ração e amor. É verdade.

Fotos: arquivo pessoal e Ana Christina.

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