Matéria publicada originalmente na edição 110 da Revista 100fronteiras, novembro de 2014.

No dia 13 de outubro, saí em busca do meu personagem da fronteira. Ele mora em um vilarejo próximo ao Ceaec. Um local meio escondido, e é claro que eu me perdi. Mas ao perguntar para um morador local se ele conhecia o seu Emílio Guder, a resposta foi positiva. Todo mundo conhece o seu Carlos Emílio por lá.

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E como não conhecer? Os Guder são pioneiros na cidade. No fim de 1924, seus pais vieram do Rio Grande do Sul até a fronteira pela Argentina e atravessaram de barco, pois na época a ponte não existia nem em sonhos. Eles chegaram aqui por causa da colonização militar pelo Exército brasileiro. Logo compraram uma terra para cultivar, criar porcos, etc. Os produtos eram vendidos para o Exército, Marinha e alguns estabelecimentos comerciais existentes.

Carlos Emílio Guder

O local em que se estabeleceram tinha 20 alqueires e foi o mesmo onde nasceu Carlos Emílio Guder em 1939. A propriedade se situava no quilômetro 14 da Avenida das Cataratas, hoje proximidades do aeroporto. A casa era de rancho de taquara, rodeada com varas de taquara. A vida não era fácil, pois a Avenida das Cataratas nem existia. O calçamento somente foi implementado em 1953 – do Boicy até a Avenida dos Imigrantes.

Emilio gostava de jogar futebol com os amigos. Todos da cidade eram “vizinhos”, todo mundo conhecia todo mundo. A diversão ficava por conta das festas de aniversário na colônia e, claro, nos bailes. Todos os rapazes iam armados aos eventos e pediam para que o anfitrião guardasse as armas. Emílio conta que essa era a cultura da época, com ênfase no fato de que todos se respeitavam, não existia malícia com ninguém. Se havia dúvida ou discussão, aconselhava-se a pessoa e acabava por aí.

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Carlos Emílio Guder e família

A primeira vez em que se lembra de ter ido às Cataratas do Iguaçu foi com 15 anos, na companhia do pai. Eles iam a cavalo, sendo necessário levar espingarda e facão por causa dos animais que lá existiam. Era tudo mato. Ele conta que as árvores tremiam e de longe já era possível ouvir o estouro das madeiras que despencavam na água.

Seu Emílio estudou somente seis meses em sala de aula. O resto aprendeu trabalhando. Já fez de tudo um pouco: trabalhou na lavoura, arada de boi, serviços de engenharia, carroça de boi, Exército, Marinha, foi inspetor policial, caminhoneiro e puxou até madeira na “BR”, quando essa não tinha asfalto.

“Saíamos do Marco das Três Fronteiras às 17h30 com destino a Cascavel e demorava um dia inteiro. Era uma aventura pra ir, só tinha mato, não tinha calçamento, não tinha estrada, era valeta, buraco.”

Em 1969 conheceu sua esposa. E ainda lembra que ela e o sogro estavam serrando cepo, tábua para cobrir a casa. Ele estava andando de bicicleta, procurando uma pessoa para contratar para trabalhar no local em que cuidava no aeroporto. Quem Emílio acabou encontrando foi dona Natalia Meyer, amor de sua vida. Nove meses depois se casaram na igreja Matriz.

O terno usado por seu Emílio na ocasião, posteriormente, foi utilizado mais cinco vezes no casamento dos cinco filhos.

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Carlos Emílio Guder se casando

Com os dois, constatei de fato que essa diferença de idade não existe quando há amor. São 18 anos a diferença de idade e é visível o brilho nos olhos dos dois quando falam um do outro. Apaixonados, pude ver no álbum de fotografias do casal que todas as fotos têm pose romântica.

A família pioneira da cidade é bem receptiva com as visitas lá na “Vila Guder”, como chamam carinhosamente o local que adquiriram em 1991 e no qual vivem todos os filhos. São todos vizinhos. Se eu e a cinegrafista Ana Cristina tivéssemos mais tempo, com certeza ficaríamos o dia inteiro escutando as diversas histórias dessa família do bem.

Fotos: arquivos pessoal e de Ana Cristina.

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