Matéria publicada originalmente na edição 55 da Revista 100fronteiras, abril de 2010.
A reportagem “Filha de Hitler viveu e morreu em Foz”, publicada na edição de número 54 da revista 100fronteiras, vinculou a fantástica história do livro K.B.K., ainda sem editora, escrito por dois médicos de Foz do Iguaçu, sobre a vida de Nora Daisy, uma senhora de descendência alemã, que vivia numa situação precária na cidade, intitulava-se Condessa Nora Daisy e era tida como filha de Adolf Hitler, o ditador alemão.
A pesquisa de mais de quatro anos dos doutores Luiz Monteiro Franco e Christiane Lopes Pereira, resultaram num livro de mais de mil páginas. As evidências e fatos apurados por eles, tendo a própria Nora Daisy como personagem principal, dão pistas de que a história pode ser, sim, verdadeira.
Nesta reportagem, queremos saber quem era Nora Daisy, a filha de Hitler que viveu em Foz do Iguaçu desde a década de 70, até 2005 quando teve morte natural em sua residência, no bairro Ouro Verde.
Conversamos com jornalistas e leitores que reportaram fatos sobre duas mulheres, mãe e filha, que viviam mendigando pelas ruas da cidade. Cultura folclórica de Foz à época, as duas eram Nora Berthé Auguste Maria Friz e a filha Nora Daisy Friz Kirschner – o pai de Nora Daisy era Kurt Bruno Kirschner (iniciais que dão nome ao livro), segundo o livro.
A curiosidade do meio jornalístico da cidade e da região era grande em função da boataria que circulava de que as duas eram mulher e filha de Hitler. Segundo o jornalista e historiador, Jackson Lima, em seu microblog, as duas senhoras eram conhecidas, também, por golpes aplicados no comércio local, chegando a tal ponto de a imprensa local criar o Troféu Condessa Nora Daisy para homenagear as maiores trapaças da cidade
Quem confirma essa história é o jornalista Chico de Alencar, o criador do Troféu Condessa Nora Daisy, que ele vinculou na coluna Foz do Iguaçu, assinada por ele no jornal O Estado do Paraná, na década de 70.
“O troféu foi criado em tom de ironia devido a situação folclórica, a mendicidade e aos roubos cometidos pelas duas mulheres. O troféu era de gozação e nós entregávamos para vereadores, prefeitos, delegados, comerciantes. Se fosse hoje o prefeito Paulo (Mac Donald) teria recebido uns dez já”.
conta chico.
Ele lembra que arrumou encrenca várias vezes com elas (mãe e filha), pois falava, sempre em tom de ironia e deboche, das duas mendigas.
“Eu falava sempre na minha coluna sobre elas. Eu ironizava, pois elas se diziam de família nobre e viviam mendigando pela cidade, de pés descalços, pedindo dinheiro. E, sempre quando o jornal saia, elas iam à sede da empresa tirar satisfação comigo. Contavam sempre muitas histórias, muitas pareciam mentiras, mas outras me pareciam ser verdadeiras”.
Devido à correria do jornalismo, justamente na época em que começaram as construções da Itaipu Binacional, Chico conta que não havia tempo hábil para correr atrás de mais detalhes e apurar se elas eram, realmente, da família de Hitler.
“Eu mesmo escutei da boca delas umas 50 vezes que elas eram da família de Hitler. Elas tinham muitos contatos com os nazistas que fugiram para a Argentina e para o Paraguai, mas nós não tínhamos como nós dedicar, exclusivamente, a essa reportagem”.
Com 77 anos de vida, Chico de Alencar conta que elas não eram pessoas comuns, eram instigantes, curiosas.
“Parecia que elas estavam fugindo, se escondendo aqui em Foz. E parecia que elas tinham alguma fonte de renda, pois, apesar de viverem em extrema miséria, não era possível alguém seguir a vida sem trabalhar”.
revela o jornalista, lembrando da história de que elas viveram, durante uns três anos, dentro de uma Kombi velha no pátio da Polícia Civil.
“O pessoal dava dinheiro para elas, mas a população vivia prestando queixa à policia por roubos e trapaças que elas cometiam na cidade. A policia prendia, mas depois soltavam as pobres mulheres. Eram pessoas pitorescas, folclóricas”.
Onde há fumaça…
O ambientalista, Francisco Amarilla, de Foz do Iguaçu, após ler a reportagem “Filha de Hitler viveu e morreu em Foz”, procurou a redação da 100fronteiras para contar um fato intrigante que lhe ocorreu em 1999 na cidade de Nacunday, um vilarejo ao Sul do Paraguai, próximo a Encarnación.
Ele acompanhava uma equipe de reportagem da Rede Globo que se deslocou até aquela cidade para fazer uma matéria sobre o Parque Nacional Nacunday. Mas o fato mais curioso aconteceu quando, nas proximidades do rio que leva o mesmo nome da cidade, um senhor que aparentava ter uns 80 anos contou uma historia curiosa à Amarilla.
Dizia ele que os alemães ocuparam a cidade a partir da década de 40, se instalando em uma base dentro do parque.
“Ele olhou para a antiga base e disse: Aqui morreu muita gente. Os alemães mataram muita gente por aqui”
conta amarilla.
Ele diz que o homem não mencionou nomes, mas contou a história com revolta, pois jamais itiu a ocupação alemã e, muito menos, as mortes que ele diz terem ocorrido ali.
“Quando li a reportagem e vi a história de que Hitler havia vivido no Paraguai, lembrei desse acontecimento e liguei uma coisa a outra, pois é fato comprovado que os alemães viveram no Paraguai após a II Guerra Mundial. O próprio Mengele (Josef, o médico nazista conhecido como anjo da Morte e famoso por suas experiências médicas realizadas em judeus nos campos de concentração) foi perseguido político no Paraguai”, lembra.
Amarilla contou, ainda, que o senhor relatou que o cemitério de Nacunday (Cemitério da Municalidad de Ñacunday) está cheio de lápides com nomes de alemães que morreram naquela cidade.
“Eu mesmo nunca tive a oportunidade de voltar lá e ir até o cemitério ver os nomes dessas pessoas, mas é algo que me intriga e um dia eu volto lá para ver”.
Completa.
A vida na ponta do lápis
Conforme relataram os autores do livro, Nora Daisy narrou a trajetória de sua vida, desde as épocas da vivência na Alemanha, em tempos de guerra, ando pelo embarque no campo de concentração ao voo que trouxe nazistas para a América do Sul, até chegar aos desenhos e traços feitos em lápis de cor que contam, em forma de ilustrações, os anos vividos no Paraguai e no Brasil.
“Esses desenhos nos ajudaram a entender a história que Nora Daisy quis nos contar e, também, ilustram as páginas do livro confirmando fatos ali impressos. Ela queria contar essa história, mas tinha medo do que nós faríamos com ela”.
Contam.
História interessante e intrigante… e o que aconteceu com os pertences das falecidas? Alguém revistou o que elas tinham para ver se havia algum documento ou pista que poderia ajudar com a pesquisa dos autores do livro?
Olá Mario, tudo bem? a matéria foi escrita originalmente em 2010 por uma jornalista que não faz mais parte da equipe, então para respondermos a esse questionamento teríamos que fazer uma nova investigação. De qualquer forma é super pertinente seu comentário, vamos deixar a pauta anotada para retomar ela. Obrigada pela contribuição.
Olá Patrícia, obrigado pelo pronto retorno.
Eu fiquei intrigado e acabei procurando um pouco por informações pois alguns amigos meus, que agora vivem em Campo Largo-PR, haviam me dito que houve uma época em que eram “vizinhos da filha do Hitler”, claro que na época eu havia achado engraçado (isso faz uns quatro ou cinco anos) e evidentemente não havia dado qualquer crédito ou importância, mas como tratam-se de pessoas que não tem o hábito de inventar histórias falsas, fiquei intrigado, pois estavam falando sério…
Recentemente reencontrei um deles que era um garoto na época, ele me disse que era vizinho (ao lado mesmo), e que a chamava de “Condessa”, não lembra muito mas às vezes se aventurava na vizinha “Condessa” para procurar frutas nas árvores… dizia que ela recebia visitas um pouco incomuns, pessoas com carros caros e bem vestidas (isso é bem subjetivo também), talvez amigos, ou pessoas querendo ajudar, mas na opnião do meu amigo eram contatos misteriosos que a “Condessa” tinha e que possivelmente eram do círculo de amigos alemães dela.
Recentemente resolvi procurar na internet pois fiquei curioso, então encontrei esta página, achei interessante, não que seja muito relevante atualmente, mas não deixa de ser curioso, gostaria de saber o progresso das investigações, se é que existe algum progresso…
Obrigado!