Cézar Augusto Vianna, Delegado da Alfândega da Receita Federal em Foz do Iguaçu, explica a importância do trabalho de fiscalização na fronteira e destaca a atuação no controle do comércio internacional. 

1. Me fale sobre você e sua trajetória na Receita Federal?

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Sou natural de Salvador (BA) e ingressei na Receita Federal em 1997 como técnico do Tesouro Nacional em Rondônia. Posteriormente, fiz concurso para auditor e fui designado para Foz do Iguaçu em 2002. Desde então, ei por diversos setores da alfândega, como o Porto Seco, o aeroporto e a Área de Controle Integrada (ACEI) na fronteira com o Paraguai. Em maio de 2024, assumi o cargo de delegado da Alfândega após processo seletivo interno.

2. Qual é o foco da Receita Federal em uma região de fronteira como Foz do Iguaçu?

Atuamos em duas frentes: controle do comércio internacional e repressão ao contrabando e descaminho. Foz movimenta cerca de 45 mil veículos/dia na Ponte da Amizade, além de ser responsável por processar 75-80% do comércio exterior do Paraguai, incluindo 8,6 bilhões de dólares em mercadorias pelo Porto Seco em 2024, que é o maior da América Latina. Também combatemos o contrabando de produtos como cigarros, eletrônicos e drogas, onde somente em 2024 foram apreendidas 20 toneladas de entorpecentes.

3. Quais são os maiores desafios de atuar em uma fronteira?

A cultura do “turismo de compras” no Paraguai, que normaliza infrações. Muitas pessoas não veem problemas em trazer mercadorias ilegais, como cigarros eletrônicos, mas isso alimenta uma cadeia criminosa. Outro desafio é a evolução das táticas, como uso de crianças e adolescentes para transporte de mercadorias. Em 2023, apreendemos 580 milhões de reais em produtos irregulares, em 2024 apreendemos 575 milhões de reais em produtos irregulares, mas estimamos que o valor real do contrabando seja muito maior.

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4. Como a tecnologia tem auxiliado no trabalho de fiscalização?

Usamos  mais de 160 câmeras com inteligência artificial na Ponte da Amizade, muitas com IA, reconhecimento facial e leitura de placas. Também implantamos algoritmos para seleção de alvos, aumentando a assertividade das abordagens. Além disso, scanners de caminhões ajudam a identificar cargas ocultas. A tecnologia é crucial para lidar com o volume de 45 mil veículos/dia.

5. Quais parcerias fortalecem o trabalho da Receita na fronteira?

Trabalhamos com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional e FozTrans (controle de trânsito). Também há cooperação com órgãos paraguaios, como troca de informações sobre greves ou bloqueios. Recentemente, firmamos uma parceria com a Prefeitura para revitalizar a Ponte da Amizade, incluindo um mural histórico em comemoração aos seus 60 anos.

Cézar Augusto Vianna.

6. Como a Receita contribui para a sociedade além da fiscalização?

Destinamos mercadorias apreendidas a entidades sociais, desde que não afetem a concorrência comercial. Doamos celulares, roupas e até veículos (quando possível). Temos hoje em nosso pátio mais de cinco mil veículos apreendidos, muitos destinados à ferro-velho ou doação. Também apoiamos projetos como o mirante da Ponte da Amizade, que deve se tornar um espaço cultural.

7. O que esperar do futuro da fiscalização na região?

Com a nova Ponte da Integração e o Porto Seco ampliado, esperamos melhorar o fluxo de mercadorias e veículos. Porém, o desafio permanece: equilibrar o comércio internacional legítimo com a repressão ao crime. Queremos mais investimentos em tecnologia, como scanners portáteis para veículos pequenos, e maior conscientização da população sobre os impactos do contrabando na economia e na segurança.

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8. Qual sua mensagem final para a população?

O contrabando não é “apenas uma caixa de cigarro”. É um crime que financia atividades maiores e corrompe até crianças. Precisamos romper essa cultura. A Receita está aqui para facilitar o comércio legal e proteger a sociedade, mas precisamos do apoio de todos – inclusive cobrando dos governos investimentos em infraestrutura e tecnologia para uma fronteira mais segura e eficiente.

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