Ser mãe e ser empresária ao mesmo tempo é como remar com um pé em cada canoa. Foi assim que Fernanda Latrônico, consultora financeira e fundadora da NK Consultoria, definiu o que vive desde o nascimento da filha mais nova, Cecília, há 3 meses. “A gente nunca desliga 100%. Você pode estar em casa, mas a cabeça está tentando resolver uma pendência do trabalho. E quando está no escritório, o coração está pensando se o bebê dormiu, se mamou, se está bem”, explica.

Fernanda também é mãe da Eduarda, de 4 anos. Duas gestações e dois retornos ao trabalho completamente diferentes. A primeira vivida durante a pandemia; a segunda, agora, em um momento em que tudo está em movimento. “Com a Duda, quando voltei, o mundo também estava voltando. A velocidade era outra, estava todo mundo online. Já agora, com a Cecília, o mundo está girando no ritmo normal. E aí vem a sensação estranha de ver que a empresa continua sem você. Isso é bom — mostra que o time está estruturado —, mas também mexe com a nossa identidade profissional. Onde eu me encaixo agora? O que ainda é meu papel? Por isso, ter funções bem organizadas dentro da empresa, principalmente entre sócios, é fundamental”, comenta.

Privilégio, rede de apoio e a culpa invisível

Mesmo com uma rede de apoio sólida — formada pelos avós, pelo marido Nicholas, que é um pai presente, e por uma equipe comprometida —, Fernanda não romantiza a conciliação entre maternidade e carreira. “Eu sei que sou privilegiada por ter com quem contar. Mas ainda assim, a culpa vem. Culpa por sair, por voltar, por achar que não está fazendo o suficiente em nenhum dos dois lados. É um sentimento que paira, mesmo quando está tudo dando certo.”

A maternidade que transforma a forma de liderar

A maternidade também impactou o jeito de Fernanda liderar. Ela diz que ou a olhar mais para as pessoas, no geral, com empatia e paciência — e isso vale para colaboradores, clientes, parceiros e outras empresárias. “A gente aprende que não tem controle, porque filho não segue plano. E isso te ensina a relativizar muita coisa. Às vezes, aquele problemão da empresa vira só mais uma coisa a resolver.”

Publicidade
Fernanda com as filhas.

Ela também ou a valorizar ainda mais o tempo presente. “Se estou no escritório, estou no escritório. Se estou em casa, estou em casa. A gente tem como regra guardar o celular quando chega em casa, para realmente viver aquele momento com as meninas. Claro que nem sempre dá, mas a gente tenta.”

Empresária-mãe não consegue parar 100%

Um ponto que Fernanda faz questão de destacar é que, quando se está à frente de um negócio, é muito difícil — para não dizer impossível — se desconectar totalmente. “A empresa não para. Mesmo que o time esteja preparado, você sempre está envolvida de algum jeito. A verdade é que a gente não consegue parar 100%.”

Ela relembra as reuniões em que mães empresárias levavam os bebês de poucos meses, porque não tinham alternativa — ou porque era simplesmente isso ou não estar. “A Cecília já foi comigo pra NK algumas vezes. É assim que dá, e a gente vai fazendo como pode. É a realidade de muitas mulheres.”

A gente se culpa, mas também se encontra

Para Fernanda, não existe equilíbrio perfeito — e tudo bem. “A gente sente culpa, sim. Às vezes, se sente perdida. Mas também vai se reencontrando aos poucos, se reinventando. A verdade é que tem muita mulher por aí fazendo o que dá. E isso já é muito. Cada uma no seu tempo, do seu jeito, tentando dar conta da melhor forma possível. Isso também é força.”

Publicidade
Anúncio Publicitário

Deixe um comentário

Deixe a sua opinião