Ela concedeu entrevista exclusiva para a 100fronteiras e abordou temas relacionados à região trinacional
A pandemia de covid-19 gerou uma crise sem precedentes em nível mundial. O turismo foi um dos setores mais atingidos pelo coronavírus e o primeiro a ser impactado. Segundo Sofía Afara, tanto o Paraguai quanto a região trinacional estão afetados igualmente: “Não temos aeroportos abertos, as fronteiras estão fechadas, não tem viajantes nem para negócio, nem para férias. As operadoras, agências, empresas de transportes, hotéis, restaurantes, tudo está parado, e isso tem gerado um efeito dominó negativo no decorrer dessas semanas”.

Sofía conta que, especialmente com o Brasil e a Argentina, países limítrofes, o governo paraguaio tem dialogado bastante com os ministros: “Todos estamos com a mesma atitude de trabalhar com promoções regionais a médio prazo e a partir daí delinearemos estratégias de assistência médica entre os países para evitar o surto da pandemia”.
Segundo o Ministério de Turismo, em março de 2019, o país guarani recebeu 93.437 turistas, enquanto no mesmo mês de 2020 foram 28.963; isso representa uma queda de 69%. Já as receitas de turismo (em dólares) também caíram de US$ 39.390.792 para US$ 15.818.353, representando uma diferença de 60% de um ano para o outro.
Já com o fechamento das fronteiras aéreas e terrestres, em abril de 2020, a redução de chegada de visitantes foi de 100%, tanto quanto na receita em dólares. “Apesar da situação que estamos enfrentando, temos confiança no renascimento do setor de turismo assim que a situação gerada pelo covid-19 terminar. Sabemos que é uma situação global e trabalhamos em coordenação, especialmente com os países da região, para realizar medidas de contingência econômica, social e trabalhista”, enfatiza Sofía.
Aquecendo a indústria turística
Antes de mais nada, segundo a ministra, os países precisam que a maior quantidade de prestadores de serviços turísticos sobreviva a esta crise. Para ela, a grande diferença entre o antes e o depois do setor vai ser dada pelo nível de confiança a ser gerado ao público e a garantia de que as medidas sanitárias serão respeitadas. A segurança será decisiva para a tomada de decisão do viajante ao escolher o destino a visitar. O governo paraguaio está trabalhando com protocolos de biossegurança sanitária para os setores de acomodação, gastronomia, guia turístico e transporte, gerando a sensação de confiança de que paraguaios e estrangeiros precisarão ter para tomar a decisão de sair apreciar as belezas turísticas.

Sofía também fala que este tempo deve ser usado pelas atrações turísticas, assim como pelos prestadores de serviços do turismo, para se aprimorarem até que o setor retome a “normalidade” e a pandemia comece a abrir as fronteiras nas quais hoje os países estão presos.
“No Paraguai, vamos focar no turismo interno, para que os paraguaios possam gozar novamente de todos os benefícios de nosso país e no posicionamento internacional, uma vez que a conectividade aérea seja restaurada e as empresas voltem a operar. Nesse sentido, a política de preços será uma das medidas que devem ser tomadas por sugestão do governo federal e também pelo setor privado.”

Inclusive, segundo a ministra, já estão surgindo propostas de promoções lideradas por empresas privadas que permitem que as pessoas comprem pacotes de maneira a dar oxigênio para que as empresas possam subsistir, principalmente aquelas do interior do país, como hotéis-fazendas, hotéis e pousadas.
Diz ainda entender que a vontade é também a consciência de que o governo vai precisar de apoio de cada um dos setores, tendo em conta a situação do momento: “Para voltar a reativar as estratégias, vamos ter que moldar os custos para a realidade”.
Qual o posicionamento do poder público para impulsionar o setor turístico?
Sofía Afara: “Do governo nacional, várias medidas foram tomadas com aliados estratégicos, como companhias aéreas, agências de convenções, setor de acomodações, agências, gastronomia, pousadas de turismo, com quem trabalhamos desde o primeiro dia em reuniões virtuais, vendo e gerenciando da melhor maneira para ver uma saída dessa situação. A esse respeito, devo mencionar que acompanhamos as negociações com o Banco Nacional de Desenvolvimento, que forneceu linhas de crédito para capital operacional e pagamento de salários.
Com o Crédito Agrícola de Habilitação, também trabalhamos para oferecer linhas de crédito direcionadas ao setor de pousadas turísticas e acomodações rurais, tanto interiores como urbanas, com considerável flexibilidade em termos de juros. A Secretaria de Defesa do Consumidor (Sedeco) nos ajudou apoiando que as viagens planejadas ao exterior pudessem ser remarcadas, e não canceladas, a fim de evitar ações judiciais e outros inconvenientes. Isso foi gerenciado através de cada agência de viagens com a companhia aérea e o usuário.
Com o Ministério do Trabalho com flexibilidade, são necessárias medidas para o tratamento do setor turístico, além de cursos de capacitação. Também com a Saúde, trabalhamos desde o início os protocolos covid-19, porque eles têm um antes e depois, e as medidas de segurança sanitária serão essenciais para qualquer tipo de prestador de serviços – e, especialmente no setor de turismo, será um fator determinante”.


Turismo nacional e regional
Para o Ministério do Turismo, o foco agora é fornecer contenção e esclarecer medidas em curto e médio prazo. Para isso, a Secretaria Nacional do Turismo irá trabalhar em conjunto com o setor privado. E quando for possível voltar a “turistar”, a primeira ação do ministério será motivar a viagem dentro do Paraguai e o desenvolvimento de turismo interno, gerenciando e articulando estratégias para lidar com a crise na região.

“Através do turismo interno, começaremos a movimentar as máquinas desse grande setor, que é o turismo, e que hoje está tendo um revés muito importante e é altamente afetado”, destaca a ministra, dizendo que para esse turismo interno não é necessário que as fronteiras estejam abertas.
Sofía ressalta ainda que com esse início do turismo interno será possível ver como o Paraguai está progredindo, com a recuperação da conectividade aérea e a abertura das fronteiras, para que em médio prazo possam voltar a abrir o turismo para a região, como os países vizinhos Argentina e Brasil.
Finaliza dizendo que acredita que a tendência é que isso vá acontecendo gradualmente, mas com cada um usando seus próprios meios de transporte para começar e as coisas irem voltando aos poucos ao “normal”.


