Márcia Regina Espinosa, conhecida como “Profe-vovó” pelas crianças do Centro Municipal de Educação Infantil Zilda Arns, em Fazenda Rio Grande, se tornou um exemplo inspirador para muitos. Aos 62 anos, ela decidiu retornar à carreira na educação, depois de um longo período afastada, e encontrou no estágio a oportunidade de se reinserir no mercado de trabalho. Sua história reflete uma crescente tendência de pessoas mais velhas buscando novos caminhos profissionais, muitas vezes começando por estágios.
A reintegração de trabalhadores com mais de 50 anos ao mercado é um movimento crescente no Paraná, apoiado pela Secretaria de Estado do Trabalho, Qualificação e Renda (SETR). No ano ado, a SETR promoveu um mutirão de empregos para essa faixa etária, intermediando a colocação de aproximadamente 500 pessoas no mercado de trabalho formal. O número de vagas intermediadas pela Rede Sine para o público acima de 50 anos cresceu 38% entre 2023 e 2024, ando de 8.994 para 12.440 vagas.
Em 2025, a Secretaria irá oferecer cursos de qualificação voltados para esse público, ajudando-os a disputar de forma mais competitiva as vagas que exigem formações e habilidades específicas. As iniciativas incluem projetos como o Bora Paraná, Qualifica Paraná, e as Carretas do Conhecimento, que levam cursos de capacitação profissional para diversas cidades do estado por meio de escolas móveis.
Entre janeiro e setembro de 2023, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontava um saldo negativo de 6.175 vagas para pessoas acima de 50 anos no Paraná, número que caiu significativamente para 1.420 no mesmo período de 2024. A meta agora é alcançar um saldo positivo de vagas para essa faixa etária.
Experiência de Vida e Reinvenção Profissional
Formada em magistério, Márcia já havia trabalhado com educação infantil e foi concursada na Prefeitura de Curitiba até o ano 2000, quando se mudou para os Estados Unidos com a família. Ao retornar ao Brasil, enfrentou dificuldades para se reinserir na rede municipal, já que os concursos aram a exigir ensino superior. Durante esse período, ela fez bicos em escolas e outros trabalhos, até se dedicar à vida doméstica.
No entanto, o desejo de retomar sua carreira na educação nunca a abandonou. Com o incentivo da filha, Márcia se matriculou no curso de Pedagogia em 2020 e logo começou a estagiar. “Comecei o estágio no primeiro ano de faculdade e estagiei por dois anos na Educação Especial, em Curitiba, e depois em Fazenda Rio Grande, com crianças pequenas”, conta.
A experiência de estágio foi transformadora, e ela se tornou muito próxima das crianças e dos colegas de trabalho, mesmo sendo muito mais velha. “As crianças me chamavam de profe-vovó e eu me dava muito bem com as professoras mais jovens, que eu via como minhas filhas”, diz Márcia. Ela destaca que, apesar do trabalho ser fisicamente exigente, se sentia com a mesma disposição das mais jovens.
Além disso, Márcia também se surpreendeu com suas habilidades tecnológicas. “Antes de começar a estudar, só sabia usar o telefone fixo, nem celular tinha. Agora, mexo no computador, faço tudo online e ainda paguei minha faculdade com o dinheiro do meu estágio”, comenta com orgulho.
Agora, aos 62 anos, Márcia se prepara para se formar em Pedagogia em abril e planeja continuar seus estudos com uma pós-graduação. Ela também está interessada em prestar concursos públicos para seguir sua carreira.
O Crescimento da Busca por Estágios para a Faixa Etária Acima de 60 Anos
O Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR), que atua na inserção de estudantes no mercado de trabalho, tem notado um aumento na procura por estágios entre pessoas de 60 anos ou mais. Em 2024, o CIEE/PR ofereceu 8.738 vagas de estágio para diversas faixas etárias e planeja aumentar esse número em 10% em 2025. As áreas mais procuradas por essa faixa etária são istração e pedagogia.
As empresas também têm se mostrado mais receptivas a contratar pessoas mais velhas, principalmente devido à experiência e ao compromisso desses profissionais. A pandemia e a preferência de muitos jovens por trabalhos home office contribuíram para esse movimento.
O CIEE/PR acredita que as pessoas com mais de 60 anos estão buscando uma nova chance no mercado de trabalho, seja para retomar um curso universitário ou se especializar em áreas novas. “As empresas acham vantajoso contratar pessoas mais velhas, pois têm mais experiência e comprometimento”, afirma Ilsis Cristine da Silva, supervisora operacional do CIEE/PR.